15 Apr
15Apr

Valor Econômico, Set/2017

O tema sustentabilidade entrou na agenda da alta liderança de mais empresas nos últimos anos, em parte porque passou a ser mais associado à economia de custos. Mas aumentou também a desconfiança, no número de pessoas que acham que o assunto ainda não se traduz em práticas com a mesma intensidade com que decora os discursos das companhias.


As conclusões são de um levantamento bienal realizado pela Fundação Dom Cabral, que teve participação de 465 executivos de empresas, a maior parte delas com mais de 500 funcionários.Entre 2014 e 2016, cresceu de 51% para 78% o número de empresas onde a agenda de sustentabilidade é liderada pelo CEO, e de 51% para 63% aquelas em que o programa da área é analisado e aprovado pelo conselho de administração — em 2012, primeiro ano da pesquisa, isso acontecia só em 4% das organizações.


Para Heiko Spitzeck, um dos autores da pesquisa e professor da Fundação Dom Cabral, isso reflete um entendimento maior de que a sustentabilidade não é um elemento periférico, mas um ponto que precisa ser incorporado aos negócios para dar resultados — o mais importante deles sendo a economia de custos.Segundo a pesquisa, a iniciativa mais associada com a prática da sustentabilidade é a redução de gastos decorrente da melhoria da eficiência, lembrada por 79%. “Eficiência energética, reciclagem e outros podem ajudar a reduzir custos, o que no contexto atual do Brasil é um motivador muito forte para os negócios”, diz.


Outro elemento que ajudou a levar o tema até os conselhos e salas de presidência, na opinião de Spitzeck, é a crise decorrente de escândalos envolvendo grandes companhias brasileiras. “Há uma lista longa de empresas que sofreram baixa na reputação”, diz. 


Recorrer à sustentabilidade também é uma forma de tentar recuperar essa imagem, diz o professorEssa é a motivação citada por 68% dos respondentes para o estabelecimento de parcerias para resolver problemas sociais e ambientais, menos do que o registrado em 2014 (75%), mas muito à frente das outras razões listadas, como incentivos fiscais (44%) e benefícios financeiros ao identificar possibilidades de inovação (26%).A crise na reputação — que atingiu muitas empresas que eram consideradas referência em sustentabilidade como Vale, Petrobras ou Odebrecht — também afetou a percepção dos respondentes quanto à distância entre o discurso e a prática das companhias.


Subiu de 63% para 93%, entre 2014 e 2016, aqueles que consideram que as empresas promovem a sustentabilidade, mas não estão realmente engajadas no assunto. 

“As pessoas estão decepcionadas que há pouca sustância. Isso é interessante, porque pode levar a um público mais crítico. Será mais difícil para a empresa ficar só no discurso e não ir para a ação”, diz.


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